17 de Setembro celebramos os Estigmas de São Francisco: “A visita do Amor que tanto buscou”
A festa
dos Estigmas de São Francisco, mais que um grande milagre, recorda a sua
própria trajetória de vida e vocação. Francisco é o homem da cruz, pois
fez dela o seu caminho e meta. A sua busca em viver o Evangelho fez de
sua existência uma identificação com o próprio Crucificado. Francisco é o
“Servo crucificado do Senhor Crucificado” (1Cel 95,5).
O chamado
de Francisco a uma vida de penitência acontece em dois momentos
cruciais, o primeiro é o encontro com o leproso. Esse encontra neles a
pessoa de Cristo Crucificado (cf LM 1,6,2). Ao afirmar em seu Testamento
que “Aquilo que me parecia amargo, converteu- se em doçura da alma e do
corpo” (Test 2). Francisco não vence apenas a repulsa, mas se compadece
e ama, pois consegue ver nas feridas abertas e fétidas, as chagas do
próprio Senhor Crucificado.
O segundo
momento que caracteriza o início da vida de penitencia é o encontro com o
crucifixo de São Damião. Esse encontro também é muito significativo,
pois além de apontar a missão do jovem de Assis, de “reconstruir a
Igreja”, acentua o amor ao mistério da Paixão, pois “desde aquela hora
seu coração tornou-se tão vulnerado e comovido, lembrando a paixão do
Senhor, que sempre, enquanto viveu, trouxe os estigmas do Senhor Jesus
em seu coração” (LTC 14,1).
Desse
modo, a comemoração da impressão das chagas de Francisco quer trazer à
memória toda a amplitude existencial desse santo epocal. A cruz de São
Damião e o beijo no leproso tornam-se sinais prefigurativos do Serafim
Alado.
O jovem de
Assis “sempre, enquanto viveu, levou em seu coração os estigmas do
Senhor Jesus” (LTC 14,1). Por isso, o caminho de Francisco rumo ao
leproso e à Igreja de São Damião se tornam o mesmo caminho ao Monte
Alverne, onde recebeu os estigmas. Isso leva a crer que a experiência da
cruz se faz parte fundante da experiência mística da vida do poverello.
Contudo, no Alverne se dá a experiência mais radical do Amor de Deus,
que se entrega de forma gratuita e total.
Dois anos
antes de sua morte, encontrando-se numa fase de grande angústia e
turbulência, Francisco vai ao monte Alverne para fazer a quaresma de São
Miguel. Além da doença física, Francisco experimenta a tristeza de ver a
Ordem se desvirtuar daquilo que intuiu ser a inspiração originária da
verdadeira pobreza evangélica para si e seus irmãos, que livremente
vieram abraçar esse estilo de vida.
Assim como
o Cristo, também Francisco sobe o monte calvário. O servo faz a
experiência do Senhor dos Passos, sente a angústia, o medo e a solidão. E
é no profundo vazio do abandono que Francisco é visitado pelo Senhor
através de um Serafim Alado. A experiência da solidão, o mergulho no
nada, a ânsia de se completarem entre si, tornam-se as condições de
possibilidade para o verdadeiro encontro do Amor divino e misericordioso
para com a humanidade do pobre servo.
Esse
encontro se dá como uma resposta de Deus àquele a quem tanto procurou
manter-se no Senhor e sentir em seu corpo o amor e a dor de Cristo na
Cruz. Por muitas vezes e de forma incansável o pobrezinho de Assis,
recolhia-se em lugares solitários, florestas, montes e grutas. Sempre
mantinha o contato íntimo com seu Senhor, “orando sem cessar,
esforçava-se em manter o espírito na presença de Deus” ( LM 10,1,1) e na
contemplação do madeiro sagrado, pois “sempre trazia a Paixão de Cristo
em seus olhos” (cf 2 Cel 11,6). No Alverne, diante do Serafim,
Francisco não mais busca, mas se deixa encontrar, não mais o contempla,
mas experimenta em sua carne a Paixão do Crucificado.
Todo o
esforço e diligência no seguimento de Jesus crucificado foram impressos
em seu corpo. Tudo aquilo que estava interiorizado em sua vida, palavras
e ações se converteram em sinais visíveis. Assim deixa de ser um
seguidor de Jesus para se tornar um outro Cristo! A alegria de ser
enviado pelo Crucifixo de São Damião, com a missão de restaurar a
Igreja, converte-se em perfeição, que de tanto perfazer-se, completou a
obra começada. E do mesmo modo, aquele primeiro beijo no leproso
torna-se, no Alverne, o ósculo da acolhida no mistério do amor infinito
de Deus.
Enfim,
segundo as Considerações dos Estigmas, essa experiência crucial na vida
de Francisco o fazia sentir alegria e dor. E, mais do que a confusão de
sentimentos, os estigmas imprime em Francisco a certeza de que Aquele a
quem havia seguido, amado e servido nunca o havia abandonado e agora
tornava-se plena identificação: “Tende em vós os mesmos sentimentos de
Cristo Jesus.” (Fl 2,5)
http://www.ofmscj.com.br/?p=6409
Comentários
Postar um comentário